Publicitário conta os desafios de trabalhar na Almap BBDO e relembra a trajetória de mesa-tenista

Trabalhar como um diretor de arte em uma grande agência de publicidade é o sonho de muitos profissionais da publicidade. Ralph Veiga é um publicitário de sucesso que construiu ao longo dos anos uma carreira sólida no ramo. 

Há 20 anos, ele entrevistou Kelly Nagaoka, fundadora da Nagaoka Mídias Sociais, na época atleta da seleção brasileira de tênis de mesa, esporte que Ralph admira e praticou por muitos anos.

Hoje, após tantos anos, eles inverteram os papéis, e quem concede a entrevista é Ralph, contando um pouco da sua trajetória no esporte e na carreira e relembrando os bons momentos que o tênis de mesa lhe proporcionou.

A carreira de diretor de arte

Ralph Veiga é formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de São Paulo e atualmente é diretor de arte na Agência de Propaganda Almap BBDO, em São Paulo.

Ralph sempre gostou de arte e, desde pequeno, costumava prestar atenção em todas as propagandas. Assim que terminou o colégio, ficou na dúvida se cursaria Educação Física, para seguir trabalhando com Tênis de Mesa, ou se faria Publicidade e Propaganda, para poder trabalhar com arte. 

Acabou prestando vestibular para ambos os cursos, mas optou por ingressar em Publicidade e Propaganda. 

No último semestre da faculdade, conseguiu um estágio em uma agência pequena por indicação de dois amigos que lá trabalhavam. Depois de 1 ano como estagiário, foi para a agência Sunset (atual Sunset DDB) para ser assistente de arte, onde trabalhou durante 6 anos com Guto Cappio, o que o levou a ser promovido a diretor de arte júnior. 

“A partir daí, fui evoluindo meu portfólio e pulando de agência em agência. Passei por agências que sempre admirei, como Publicis e Africa, varei muitas noites trabalhando e comendo pizza de madrugada e aprendi muito. Virei Diretor de Arte Pleno e, mais tarde, Sênior. E hoje estou há 2 anos na Almap BBDO”, conta Ralph Veiga.

Segundo ele, o dia a dia em uma agência de publicidade é divertido e estressante: “Às vezes, você tem certeza de que será um dia tranquilo de trabalho, mas, no fim do dia, chega um briefing urgente que acaba com seus planos e compromissos pessoais depois do trabalho. A gente nunca sabe o que pode acontecer. Mas o mais gratificante é ter a oportunidade de criar projetos legais para grandes marcas”.

Dentre os desafios na profissão, o publicitário destaca: “Pensar em ideias criativas que atendam o briefing, que o cliente goste, que os consumidores gostem e que caiba na verba. E depois da ideia nascer, conseguir resolver visualmente como ela vai ser apresentada”.

Um dos trabalhos de Ralph para a Cervejaria Antarctica

Ao longo de sua carreira, Ralph Veiga coleciona conquistas marcantes: “O que me deixou muito orgulhoso foi a oportunidade de participar de um projeto muito bacana que ganhou um Leão em Cannes, em 2015. Acho que trabalhar para grandes marcas é o sonho de todo publicitário. Cada grande marca que adiciono ao meu portfólio é uma conquista que me deixa orgulhoso”.

First Step Project, de Ralph Veiga, que foi premiado em Cannes

Publicidade, Japão e hobby

Dica para quem quer seguir carreira na área de Publicidade: Você precisa gostar muito do que faz, pois o ritmo em algumas agências pode ser bem frenético e isso vai ocupar um bom pedaço da sua vida. Se você entende isso e sente que vale a pena, então está no caminho certo. Parece meio óbvio, mas a principal dica é: Gostar muito disso tudo.

Profissional em que se inspirou no início da carreira: Marcello Serpa. Ele é fera! Para quem não conhece a história dele, vale a pena conhecer. 

Maior sonho profissional: Ter um estúdio de arte, design e música. No Japão! Ainda não foi realizado, mas estamos no caminho certo!

Ralph e sua esposa, Jaque, no Templo Dourado, em Kyoto: “Um dos lugares mais lindos que já vi”

Hobbies, além do esporte: Eu sou apaixonado por música. Gosto muito de brincar de DJ em churrascos em casa e em festas de amigos.

Ralph Veiga e o tênis de mesa

Ralph começou a jogar aos 11 anos, no Bunka Santo André, com o técnico Pedro Sakai. Aos 12, começou a jogar pela equipe da escola em que estudava e, durante essa fase, treinava também durante o dia com o treinador Walter Rocha.

Ralph com Alex Sakai, melhor amigo desde os 11 anos, no Campeonato Brasileiro Escolar

Ele acredita ter atingido o objetivo no esporte, porque o tênis de mesa deu a ele a oportunidade de viver de perto a cultura japonesa: “Treinar no Bunka me transformou em um japonês de coração. Eu participava de todas as atividades do clube: undokai, karaokê, almoços beneficentes e tantos outros. E fiz muitos amigos da colônia japonesa que são meus irmãos até hoje. Sou muito grato a tudo que aprendi com a cultura japonesa, no esporte e na vida, graças ao tênis de mesa”.

Outra realização conquistada através do esporte foi conseguir uma bolsa de estudos: “Quando comecei a jogar pela escola, na oitava série, fui melhorando e obtendo bons resultados nos campeonatos, defendendo minha escola. Por conta disso, acabei ganhando uma bolsa de estudos que durou o fim do ginásio e todo o colegial. Isso deixou meus pais muito orgulhosos e eu fiquei muito feliz por isso”.

Ralph treinou dos 11 aos 17 anos, quando parou para se dedicar integralmente à faculdade. Ele relata algumas lembranças dessa época marcante em sua vida, mas a principal delas é a amizade: “O tênis de mesa fez parte minha adolescência inteira. As amizades que fiz pelo esporte são a melhor parte. Pois todas as conquistas, as derrotas, as viagens, os alojamentos, tudo que aconteceu são lembranças que eu vou guardar pra sempre porque estava rodeado de amigos”.

As viagens com a equipe para participar de campeonatos também renderam muitas recordações. “Ficamos em hotéis super legais com a equipe, mas eu não via a hora de chegar no ginásio para comprar os bentôs nos campeonatos. Outra lembrança muito legal era poder ficar próximo dos atletas da elite que sempre admirei e podíamos assistir os jogos bem de perto”.

Ralph com a equipe olímpica sul coreana. Ao lado direito de Ralph, Ryu Seung Min (ouro em Atenas), ao lado esquerdo, Kim Taek Soo (medalha de bronze em Barcelona)

Atualmente, ele pratica o tênis de mesa somente como diversão nas horas vagas: “Até ano passado, eu batia uma bolinha de vez em quando como diversão, mas nunca mais participei de campeonatos”.

“Com Kim Taek Soo, meu grande ídolo”

Como Ralph conheceu a jornalista e ex-mesa-tenista, Kelly Nagaoka

Kelly Nagaoka no clube ADR Itaim Keiko, local que treinou de 1986 a 1998

“Eu já a conhecia, pois ela era uma atleta da seleção e eu sempre acompanhava seus jogos nos campeonatos, mas a Kelly não me conhecia. Nessa época, eu tinha um site que falava sobre o tênis de mesa brasileiro. E havia uma sessão do site que falava dos atletas da seleção. A Kelly era uma delas. Então pedi pela internet para entrevistá-la e publicar em meu site. Após a entrevista, ela me convidou para visitar seu treino no clube em SBC e assim nos conhecemos pessoalmente. Ela me presenteou com uma toalha que eu usei em todos os meus jogos e me deu muita força. Eu dizia para os meus companheiros de equipe que havia ganhado a toalha da Kelly Nagaoka da seleção brasileira. Muito orgulhoso!”, relembra o mesa-tenista.

Entrevista de Ralph Veiga com Kelly Nagaoka, em 2000

Curiosidade: entrevista feita por Ralph Veiga que Kelly Nagaoka imprimiu e guardou durante 20 anos

Em 2000, Kelly Nagaoka estava no primeiro ano de Jornalismo e teve a oportunidade de relembrar a sua trajetória de 14 anos no esporte, ao ser entrevistada por Ralph Veiga, em seu site sobre o tênis de mesa. Confira na íntegra a entrevista!

Ralph: Qual seu nome completo?
Kelly: Kelly Tiemi Nagaoka.

Ralph: Com que idade começou a treinar?
Kelly: Comecei brincando com 6 e a treinar sério com 11 anos.

Ralph: Qual é o clube em que está treinando atualmente?
Kelly: Atualmente treino no Centro de treinamento Cláudio Kano, em São Bernardo.

Ralph: Quais foram as pessoas que te incentivaram para que começasse a treinar?
Kelly: Principalmente a minha mãe, pois já jogava desde pequena no Paraná. Engraçado que até nos dias que estava com preguiça ela me forçava a ir, mostrando que somente com perseverança alcançaria os meus objetivos.

Ralph: Qual é o material que você utiliza?
Kelly: Sempre utilizei material da Butterfly e agradeço muito o privilégio de ter sido ou ser atleta da Butterfly (ainda não sei se continuarão me patrocinando).

Ralph: Fale um pouco sobre seu estilo de jogo.
Kelly: Hummm… Essa pergunta é fogo, pois meu estilo de jogo atualmente está no contra-ataque e defesa. Quando tinha meus 13 até os 16 anos era mais ofensiva, agora estou treinando para voltar a jogar como antigamente.

Ralph: Você tem algum ídolo?
Kelly: Sim, Cláudio Kano e Hugo Hoyama, pois onde chegaram é um grande sonho.

Ralph: O que você pretende fazer no futuro, tanto dentro quanto fora do Tênis de Mesa?
Kelly: Pretendo treinar firme até as Olimpíadas de 2004, se ver que não há nenhuma possibilidade vou deixar de treinar tanto e dedicar ao Jornalismo. Comecei este ano a faculdade de Comunicação Social na São Judas Tadeu e gostaria muito se não estivesse mais jogando, trabalhar em Jornalismo em revista.

Ralph: Qual é seu principal objetivo a ser alcançado dentro do Tênis de Mesa?
Kelly: Meu principal objetivo é mudar a minha maneira de jogar, ser mais tranquila, concentrada, ofensiva, o resto é consequência; e um grande sonho é jogar as Olimpíadas.

Ralph: Quais foram os principais títulos conquistados aqui no Brasil?
Kelly: – Tri- Campeã Brasileira: mirim (Manaus-92), infantil (Recife-93), e juvenil (Piracicaba-95)

– Campeã Copa Brasil Rating A (Recife-93)

– Campeã Copa Brasil Rating A e Juventude (Santos-97)

– Tri-Campeã do Intercolonial (91, 93 e 95)

– Prêmio de melhor atleta adulta em 98, pela FPTM. 

Ralph: Quais foram as participações em campeonatos internacionais? E quais foram os títulos?
Kelly: Minha primeira participação internacional foi em Mar del Plata (Argentina), em 92, no Intercolonial das Américas. Em 93, joguei o Latino-Americano juvenil, na Guatemala, fiquei em 3⁰ individual. Ganhei 2 Sul-Americanos (infantil e juvenil – Poços de Caldas-93 e Venezuela-95), fui 2 vezes para o US Open e ganhei na categoria até 16 anos e vice até 14. Em 95, fui vice até 16 anos (respectivamente, Indianapolis e Anahein). Participei duas vezes do Mundial Juvenil em Tóquio (94 e 95). Ganhei individual, duplas, equipe e dupla mista no Intercolonial das Américas, no Peru, em 95. Joguei um Sul-Americano e Latino-Americano adulto Curaçao e México-96. Participei do Aberto da Espanha e Torneio Ibero-Americano, em Portugal e fiquei em 3⁰ lugar (96). Em 97, joguei o Mundial em Manchester (uma das minhas maiores realizações) e em 98 pegamos 6⁰ em equipe no Mundial Universitário, na Bulgária. Em 99, joguei o Sul-Americano Juventude, no Chile, ganhamos equipe e dupla (eu e Ligia Silva).

Ralph: Quais foram os estágios realizados?
Kelly: Estagiei 3 meses na Butterfly, em Tóquio, e 2 meses, em Shangai, na China.

Ralph: O que gosta de fazer quando não está jogando ou treinando?
Kelly: Ir ao cinema, comer em um bom restaurante (principalmente japonês), namorar, ler revistas, conhecer novas pessoas, viajar.

Ralph: Tem algum sonho?
Kelly: Muitos. Alcançar meus objetivos no tênis de mesa, ser mais decidida, saber me expressar melhor, não deixar que meu casamento entre na rotina!

Ralph: Que conselho você daria para o pessoal que está começando agora?
Kelly: Que se gostam realmente deste magnífico esporte, brinquem, treinem sério, façam preparo físico, tenha um dia o grande privilégio de encontrar um bom técnico (como o Maurício Kobayashi), que assim possa te conduzir para seus objetivos. Para mim, a base (ter movimentos firmes e definidos) é essencial, por isso é preciso repetir todos os dias, incansavelmente, os mesmos treinos. Também não se esquecer do robô (lançamento de bolas), que ajuda muito na base. Ah, por favor, façam bastante alongamento pois é muito comum os mesa-tenistas por falta dele terem muitos problemas, como tendinite no punho, problemas no joelho, na coluna.

Ralph: Agradecimentos?
Kelly: Muito obrigada, Ralph, pela oportunidade de participar desta entrevista, adorei! Continue neste pique que chegará longe! Também aproveito para agradecer meus pais pelo grande apoio, ao meu namorado Fernando, à dona Minako, Marquinhos, Abe-san, Maurício… Chega, né! Assim o pessoal vai ficar cansado de ler. Muito obrigada mesmo! Até!

Momento de gratidão 

A arte é uma homenagem a Kelly, como atleta, como pessoa, como jornalista. Existem alguns significados na arte, por exemplo, a raquete de cima ser maior, que significa a força da Kelly superior ao oponente e aos desafios que passou na vida. A mesa com as ondas japonesas significam os desafios que encontramos no tênis de mesa e no nosso dia a dia. E como o esporte nos ajuda a superar todos esses desafios e obstáculos! E claro! A mesa está em um céu e iluminada pelo sol! Tudo isso ilustrado com um toque japonês, que é a cultura que sou apaixonado e levo como referência para minha vida. Os kanjis em cima quero dizer tênis de mesa e o de baixo significa ganbatte: dê o seu melhor

“Ralph Veiga sempre me trouxe boas memórias do tênis de mesa. A entrevista no site e a arte personalizada foram presentes que deixaram marcas em minha vida. Vinte anos depois da publicação da matéria, encontrei, em casa, em meio à mudança, na minha caixa de tênis de mesa, a matéria impressa. Fiquei contente em relembrar um pouco da minha trajetória no esporte. Hoje, fico mais feliz em conhecer melhor a história de Ralph e sua paixão pelo tênis de mesa e pela cultura japonesa. Ralph, que conquiste todos os seus sonhos ao lado da sua família!!!”. (Kelly Nagaoka)

“Desejo todo sucesso e felicidade do mundo para você, Kelly, e para sua família! Vocês merecem tudo de bom! Domo arigato! Obrigado por ser um exemplo de dedicação e amor ao tênis de mesa e a todos os objetivos que tive e consegui.” (Ralph Veiga)

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*Entrevista concedida à Kelly Nagaoka e Sabrina Pires